Na empolgação de ligar aquele televisor novo ou um novo chuveiro elétrico, ou os ventiladores no momento do calor, muita gente pode se esquecer de observar o limite e da capacidade da instalação elétrica. A sobrecarga elétrica é um dos principais motivos de incêndio em edifícios. Um dos mais famosos incêndios do país, o do Edifício Joelma no centro de São Paulo em 1974, foi provocado por sobrecarga em um aparelho de ar-condicionado e resultou em 187 mortos – o segundo pior incêndio em número de vítimas fatais, ficando atrás apenas do colapso das Torres Gêmeas em Nova York em 2001.
E a sobrecarga pode estar passando despercebido no nosso cotidiano: muitas pessoas tem costume de ligar diversos aparelhos na mesma tomada, usando benjamins ou réguas. O professor Paulo Urbano Avila, graduado em Física e mestrado em Engenharia Elétrica, docente da faculdade ESEG, explica porque isso pode ser um risco. “Os equipamentos irão ‘puxar’ energia simultaneamente, provocando um superaquecimento na fiação que pode não ter sido dimensionada para tal carga e assim irá aquecer tanto que poderá pegar fogo na tomada ou régua onde estão ligados”, explica ele. “Há o risco de sobrecarga, por exemplo, em tomadas de uso com alimentação de 10 amperes quando colocamos adaptadores, podendo estar ultrapassando a corrente pré-definida, gerando assim aquecimento e até um princípio de incêndio”.
Existem ainda aqueles equipamentos que consomem mais energia, facilitando a sobrecarga. Aqueles que consomem muita energia, que possuem resistência de aquecimento: torradeiras, grill, micro-ondas, secador de cabelo e etc. “Eles tendem a ‘puxar’ mais energia durante seu funcionamento. O fio do equipamento já aquece normalmente sendo usado sozinho, caso isso ocorra com mais equipamentos simultaneamente, esse aquecimento poderá provocar um incêndio”, explica Urbano, alertando ainda que a cozinha é o local em uma residência mais perigoso para essa prática. “Caso tenha um vazamento de gás, poderá alimentar um incêndio. Outros lugares que tenham material combustível ou que possam alimentar o fogo, como colchão, caixas de papelão, cortinas, ou seja, que pegam fogo rapidamente, são lugares também perigosos de se ter esse tipo de ligação elétrica”. Foi justamente o que aconteceu com o incêndio no Joelma: as salas e escritórios configurados por divisórias, móveis de madeira, pisos acarpetados, cortinas de tecido e forros internos de fibra sintética contribuíram de maneira irremediável para o alastramento das chamas.
“Tem-se que evitar ligar diversos aparelhos que possuam potência elevada no mesmo adaptador de tomada, pois o aumento da potência vai aumentar a corrente do circuito. As tomadas do padrão brasileiro são projetadas para suportar 10 A ou 20 A no máximo. Quando a corrente nessas tomadas ultrapassa esse valor, teremos o risco de aquecimento que pode ocorrer tanto na tomada quanto nos cabos, que também possuem um limite estabelecido pelos fabricantes”, explica o professor. “É muito importante o uso prático do Trio da Proteção: o disjuntor, o IDR (Interruptor Diferencial Residual) e o DPS (Dispositivo de Proteção contra Surtos), que são componentes que atuam em conjunto para alertar e evitar que curtos-circuitos, fugas de correntes e surtos”.
DICAS PARA SÍNDICOS
O professor Paulo Urbano Avila separou algumas dicas para síndicos fazerem inspeção visual nas instalações elétricas. Sempre verificar:
Se não há infiltrações próximas a tomadas, lâmpadas e caixas de passagem de fios;
Aterramentos adequados segundo normas ABNT - (NR 10);
Se não há fiação rompida;
Se não há fiação indevidamente exposta em tomadas, luminárias ou caixas de passagem de fios;
Sugerir que sejam utilizadas lâmpadas frias (que não aqueçam) em ambientes de depósito de materiais inflamáveis (central de gás, material de limpeza, ou de material de construção (tintas, tinner, solventes em geral);
Impedir que crianças soltem pipa próximo a fiação elétrica;
Orientar condôminos quanto à segurança com instalações elétricas dentro e fora de seus apartamentos, sugerindo a instalação do trio de segurança;
O zelador deverá ter conhecimento mínimo sobre segurança com energia elétrica para que possa identificar um risco eminente e nunca tentar realizar reparos sem orientação de pessoa qualificada;
Na central de medição do condomínio, junto ao medidor de consumo da unidade condominial, deve existir um segundo disjuntor com o mesmo dimensionamento do disjuntor da unidade. Desta forma se garante a inviolabilidade da rede da unidade, evitando sobreaquecimento da fiação de alimentação da unidade.
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