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Foto do escritorHamasul News

Acessibilidade em condomínios: é pra já!


A acessibilidade é um tema que ganha cada vez mais espaço; não só por conta das mudanças na legislação a fim de aumentar a inclusão das pessoas com deficiência e pessoas com necessidades especiais, mas por conta dos avanços da sociedade em relação à discussão da diversidade. Mais de 24% dos brasileiros (cerca de 45 milhões de indivíduos) possuem algum tipo de deficiência, segundo dados do último CENSO do IBGE de 2010. Por representarem uma parcela tão relevante da população, a discussão sobre a inclusão de políticas públicas e corporativas mais inclusivas é essencial – e essa discussão também chega aos condomínios. Nessa edição, conversamos com Carolina Ignarra (foto), CEO e fundadora do Grupo Talento Incluir, um ecossistema de soluções focadas na Diversidade e Inclusão, pioneiro no Brasil. Carolina foi eleita uma das "20 Mulheres Mais Poderosas do Brasil" pela revista Forbes e "Melhor Profissional de Diversidade do Brasil" segundo a revista Veja e influencer no LinkedIN. Desde 2004, atua em programas de implantação de cultura de Diversidade e Inclusão nas organizações e desenvolve a inserção socioeconômica de profissionais com deficiência. Confira:


Conte-nos um pouco sobre sua trajetória e como se relaciona com o tema da acessibilidade.

Tornei-me uma pessoa com deficiência em 2001, após um acidente de moto em que fiquei paraplégica, quando tinha apenas 20 anos. Sou formada em Educação Física, pós-graduada em dinâmicas dos grupos e especialista em neuroaprendizagem. Antes do acidente, trabalhava levando ginástica laboral às empresas. Depois do acidente, precisei me reinventar na carreira profissional. Incentivada por minha antiga gestora, retornei ao trabalho apenas três meses após o acidente. Sua sensibilidade foi vital para minha recuperação. Então, comecei a receber muitas propostas de trabalho e percebi quantas oportunidades existem para pessoas com deficiência e quanto as empresas ainda precisavam aprender sobre inclusão de profissionais com deficiência, além da contratação. Com minha experiência em treinamentos e com a nova realidade, comecei a planejar e empreender no meu próprio negócio para atuar na causa da inclusão de pessoas com deficiência. Os planos foram fortalecidos quando encontrei com a amiga de infância, Juliana Ramalho, e em 2008 fundamos a Talento Incluir, que reúne diversas frentes de negócios, como consultoria de inclusão para pessoas com deficiência, inclusão de profissionais com mais de 45 anos no mercado de trabalho.

A natureza do nosso negócio facilita e nos ajuda a criar conexões com o tema. Entendo a acessibilidade na amplitude de sete dimensões: arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental, programática, atitudinal e natural. A atitudinal é a que mais nos exclui, pelo fato das pessoas não saberem lidar. A partir do momento que a gente quebra essas barreiras, as demais são quebradas como consequência. Obviamente, com a falta de acessibilidade arquitetônica eu tenho alguns impedimentos de liberdade e independência. Sempre assumi uma postura de estar presente mesmo quando o ambiente não é 100% acessível. Entendo que minha presença de pessoa com deficiência vai transformando as atitudes e tornando os ambientes mais acessíveis.


Muito se tem falado hoje em dia sobre o tema da acessibilidade; é um tema que tem ganhado notoriedade na mídia. A que você atribui a relevância que o assunto vem ganhando?

Acredito que temos um crescimento do tema diversidade na nossa sociedade. Outros recortes da diversidade estão mais presentes, mais discutidos, mais falados, mais entendidos, mais respeitados. Estamos começando a dar espaço para as pessoas com deficiência após ficarmos muito tempo na invisibilidade. A acessibilidade é um conceito que a princípio está muito ligado à questão das limitações que as deficiências apresentam, mas quando um ambiente é acessível, é favorável a todos. Uma porta que abre automaticamente no shopping é boa para todos, não apenas para as pessoas com deficiência.


Como uma espécie de "célula" da sociedade, os condomínios também têm dado atenção ao tema - alguns em maior velocidade e com maior importância, os outros de forma mais "tímida", lenta e apenas para cumprir os protocolos legais. Falando de um ponto-de-vista humano, qual a importância de os condomínios estarem cada vez mais acessíveis?

Quando a gente pensa em condomínios, lembramos que se trata de um lugar que reúne pessoas com diferentes necessidades. Atender todas as especificidades é uma preocupação que já é exigida por legislação. É preciso entender a acessibilidade como benefício, e esse é um tema que não deveria mais ser uma questão de pauta em condomínio, porque investir nisso é cumprir a lei e garantir mais qualidade de vida, bem-estar e segurança aos condôminos, visitantes e funcionários. Em condomínios residenciais por exemplo, a rampa para acessar os locais de lazer pode parecer que é só para quem tem dificuldade de locomoção, mas favorece às pessoas idosas, às famílias com carrinho de bebê ou com mobilidade reduzida temporária ou permanentemente. Vai além das pessoas com deficiência. Ainda assim, encontramos dificuldades, como por exemplo um elevador para me descer dentro da piscina sem que alguém precise me carregar.

As administradoras e síndicos acabam não cumprindo a lei de acessibilidade, talvez por medo de serem contestados pelos demais condôminos quantos aos custos e sobre como a rampa ou qualquer outro facilitador vão ficar fora dos ‘padrões estéticos’ do condomínio.

Para os condomínios de empresas, que hoje têm mais pessoas com deficiência presente, principalmente por conta da lei de cotas que tem aumentado a empregabilidade desses profissionais a cada ano, também é preciso cumprir a lei. Catracas e sistemas de identificação precisam ser acessíveis também para pessoas com dificuldades além da locomoção.


Para condomínios ainda não acessíveis, na sua opinião, quais devem ser as prioridades imediatas nas adaptações?

As prioridades têm a ver com as necessidades. A primeira ação é colocar uma pesquisa para ouvir e entender o que os condôminos sentem falta. Questão de degraus, passagens mais largas, tipo de piso e etc. Não havendo reivindicação de melhoria de acessibilidade, a indicação é fazer um mapeamento com um arquiteto especializado, porque ele passará ao condomínio a ideia de tudo que precisa ser feito e poderão se organizar para ir fazendo as melhorias aos poucos, mas de forma eficiente. Áudio em elevador é importante para as pessoas cegas para saber o andar que estão, além da identificação tátil nas entradas e saídas dos elevadores. São muitas as necessidades, mas a prioridade é atender as já existentes.


Como é sua experiência pessoal e a sua percepção com a acessibilidade em condomínios? É uma coisa que já existe? Está em vias de implantação ou ainda estamos longe?

Já morei em um prédio que as vagas eram liberadas, não eram pré-determinadas. Mas se eu usasse essas em alguns momentos, eu ficava com vagas que não conseguia abrir a porta do carro. Precisava deixar a cadeira reserva na vaga. Precisava explicar as necessidades de uma vaga exclusiva. Algumas pessoas não conseguem entender que não é uma regalia. Precisamos mudar algumas políticas para ter acessibilidade nos prédios. Os prédios novos já têm mais acessibilidade, mas nos mais antigos, o jeito é informar e quebrar as barreiras atitudinais.


Por que síndicos devem olhar para a acessibilidade como um tema prioritário?

Entendo que os síndicos precisam ser mais enfáticos ao explicarem aos condôminos sobre a necessidades do prédio em estar adequado, de acordo com a legislação de acessibilidade. Porque cumpri-la é a lei. É preciso conhecer as leis de acessibilidade em condomínios e compartilhar essas informações nas reuniões, a fim de conseguir a liberação para o investimento necessário para cumprir a lei. É importante que ele saiba sobre o que precisa ser feito por lei. Se não conseguir convencer as pessoas a fazer o que é certo, que as convença então pela exigência da lei.


A maior parte das pessoas com deficiência passa por desafios quando está em busca de melhores condições dentro dos condomínios que vive. Tirar uma cadeira do carro, abrir a porta, ajudar a carregar algo até o elevador, tem coisas que precisam fugir às regras quando tem alguém precisando de ajuda. É fundamental ter diretrizes mais claras sobre acessibilidade e alinhadas com os condôminos e profissionais que trabalham no condomínio.

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